domingo, 19 de junho de 2022

O som da cidade

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Mário
(Os sons desta cidade são infinitos. Nestes, reparei. Mas podiam ser outros. Repetindo talvez não fossem os mesmos.)

1 - O comboio da linha de Cascais chegou ao Cais do Sodré em Lisboa.
2 - Entrei nas escadas do Metro atrás desta música, e saí.
3 - Uma noite gravei o som da água da fonte na Praça da Alegria enquanto alguém tocava ukulele. Os dois juntos. Uma Lisboa suave.
4 - Só parei de subir as escadas no terraço do Mercado do Chão do Loureiro, de onde um homem tocava para mais uma vista encantadora da cidade.
5 - É um som que se escuta em vários locais da cidade, mas no cimo da cidade, no topo do parque Eduardo VII, no telhado de um hospital, há um skate parque. Ouve-se o vento e as tábuas a bater.
6 - Descendo tudo até à linha de água... Do ouvir a cidade ao longe até embrenhar-se nela, em linha reta a descer até ao rio.
7 - Subindo a pique, até ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes, um elétrico dominando a Calçada de São Francisco, anuncia-se.

Vítor
1 - O Comandante prepara os passageiros para a aterragem na cidade de Lisboa.
2 - Aeroporto Humberto Delgado à espera das malas.
3 - Não há mais enquanto e sossego que poder escutar os sons da natureza na Gulbenkian.
4 - Descendo a avenida fora é possível ouvir o som trazido pelas chuvas que aí vêm.
5 - Oiço o som de alguém a tocar nas ruas da baixa pombalina.
6 - Metro de Lisboa. Procura dos sons no quotidiano agitado.
7 - No Largo da Academia Nacional de Belas Artes, entrando para a escola.

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quinta-feira, 16 de junho de 2022

O infante

 

O Infante

 

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

 

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

 

Quem te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!

 

 Mensagem, Fernando Pessoa

 

 

No cenário apocalíptico do adormecimento da cidade “Naked city”, vem ao resgate uma nova proposta de visão sobre a cidade lisboeta que nos leva a tomar diferentes percursos levando-nos a olhar para a cidade com um ar mais positivo. Em tempos passados, Portugal foi um dos países mais importantes do mundo, principalmente na época dos descobrimentos. Contudo, a gestão da riqueza vinda das colónias não foi a melhor e o nosso grande país, especialmente a cidade de Lisboa, caiu em ruína. Já Fernando Pessoa se questionava sobre o que tinha acontecido a este povo em tempos tão glorioso.

 

Estando Lisboa adormecida dos feitos e das conquistas do passado, o meu percurso irá devolver a glória à cidade. Assumindo a forma de uma caravela portuguesa, este caminho destaca-se em catorze pontos fulcrais para acordar a cidade.

 

 

1. Cais do Sodré

            Iniciando o meu percurso no meio do movimento e do caos, o Cais do Sodré é o ponto de partida ideal para o despertar da cidade.

 

2. Cais das Colunas

            Depois de começar o percurso, o primeiro local que se destaca é o Cais das Colunas.  Este local é obviamente famoso pelas suas duas colunas instaladas nos degraus de mármore. Em tempos passados este velho cais foi a entrada mais nobre da cidade e onde desembarcavam as maiores figuras que visitavam a capital.

 

3. Avenida Ribeira das Naus

Dando continuação ao ponto anterior, a avenida Ribeira das Naus revela-se uma autêntica janela do rio Tejo. Ao observar as calmas ondas deste rio, é inevitável a lembrança de todas as naus que já aqui passaram, remetendo uma vez mais para a época dos descobrimentos.

 

4. Arco da Rua Augusta – Terreiro do Paço       

De seguida, fui levado ao Arco Triunfal da Rua Augusta no Terreiro do Paço. Este arco simboliza a força de Lisboa renascida após a “fúria da terra, do fogo e do mar” do terramoto de 1755. No seu topo, é possível observar magníficas esculturas de Célestin Anatole Calmels. À esquerda encontramos o Marquês de Pombal, os seguintes são o Vasco da Gama, Viriato e, mais à direita, o Nuno Álvares Pereira – figuras revolucionárias da história portuguesa.

 

5. Sé de Lisboa

            Após as paragens marítimas do meu percurso, vem a Sé de Lisboa. A sua construção teve início na segunda metade do século XII, após a conquista da cidade aos Mouros por D. Afonso Henriques, apresenta-se hoje como uma mistura de estilos arquitetónicos.  Sendo este um dos pontos religiosos do meu caminho, é clara a presença da religião na glória da cidade e do país. 

           

6. Museu do Dinheiro

            Em continuação está o Museu do Dinheiro. Inaugurado em abril de 2016, localiza-se na antiga igreja de S. Julião. Também a nível financeiro, Lisboa foi em tempos uma das maiores cidades do mundo.

 

7. Elevador de Santa Justa

            Subindo, agora, umas ruas em direção à Praça Dom Pedro IV, vem o elevador de Santa Justa. Situado no centro da cidade de Lisboa, liga a rua do Ouro e a rua do Carmo ao largo do Carmo e revela-se um dos monumentos mais interessantes da Baixa de Lisboa.

 

8. Museu Arqueológico do Carmo

            Avançando no meu percurso, destaca-se o Museu Arqueológico do Carmo. Localizado nas ruínas do convento do Carmo, este museu é o reflexo da queda do país após o terramoto de 1755. Assim como o convento ficou em ruínas, também Portugal ficou degradado.

 

9. Igreja de São Roque

            Continuando, vem o segundo e último ponto religioso do trajeto - a Igreja de São Roque. É uma igreja católica em Lisboa, dedicada a São Roque e mandada edificar no final do século XVI. É também uma das primeiras igrejas jesuítas em todo o mundo.

 

10. Praça Luís de Camões

            Já cada vez mais perto do destino, surge a Praça Luís de Camões. Inserida no Chiado, esta praça presta, evidentemente, homenagem a Luís Vaz de Camões. Este ponto desempenha um importante papel no meu percurso uma vez que Camões acompanhou e relatou melhor que ninguém o sucesso e a glória de Portugal na era dos descobrimentos. E ao homenagear este escritor, homenageia-se a sua obra.

 

11. Teatro São Luiz

            De seguida, está o Teatro São Luiz. Inaugurado em 22 de maio de 1894 foi inicialmente nomeado Teatro Dona Amélia, em homenagem à época rainha de Portugal.

 

12. Café A brasileira - Estátua Fernando Pessoa

            Prosseguindo, chega-se à estátua de Fernando Pessoa pertencente ao café A brasileira. Este poeta, aqui destacado, foi assim como Camões uma importante figura a exaltar os feitos portugueses. Questionando-se nas suas obras, acerca do desperecimento do grande Portugal.

 

13. Livraria Bertrand

            Já perto do fim, temos a livraria Bertrand, que nos permite explorar o passado. Com centenas de livros por onde escolher esta livraria traz-nos de volta aos tempos onde Portugal foi um grandioso império.

 

14. Faculdade de Belas Artes

            Assim, chegando à faculdade de Belas Artes conclui-se todo o percurso.

 

 

            No fim do percurso aqui estabelecido, é impossível não ver Lisboa através de uma nova perspetiva.  Passando pelos diferentes pontos é interessante o facto de todos se unirem, levando-nos numa viagem. Viagem essa que nos faz acordar e pensar sobre a situação em que nos encontramos - a decadência de um país, em tempos tão glorioso. Descontentes e adormecidos não vamos longe, mas se abrirmos os olhos e ouvirmos o que Lisboa tem para nos contar não ficamos indiferentes. 

sábado, 11 de junho de 2022

Calçada e uma bica

Calçada Portuguesa

"Aquelas mãos calosas dos grilhetas
Escreveram história de Portugal
Na arte da calçada pedonal
De tons fragrantes como as borboletas.

No princípio, contraste preto e branco,
Desenhos a liós e a basalto
E espalhando harmonia voou mais alto:
A cor espalhou, dando ao Mundo espanto!

E aquele inútil lastro, subreptício,
Pelos mares do Planeta divulgou
Uso eficaz da arte que aprisionou
Para fazer chegar tal benefício.

Ajardinou-se a pedra todo o Mundo,
Tornando a história indével e eterna,
Onde quer que haja um pé ou uma perna,
Todos olhos a vêem ao segundo!"

Orlando Brogueira Rolo, 2018

    Quantas vezes tiramos os olhos dos telemóveis e das filas intermináveis para os transportes? Quantas vezes paramos para apreciar o que nos rodeia? Quantas vezes fitamos o piso em que andamos? Estamos sempre tão (pre)ocupados com o tempo, com a pressa, com o destino. Numa cidade tão maravilhosa como Lisboa, é de valer a pena parar um pouco e observar, conhecer, expandir horizontes e aproveitar o que a história nos deu.

    Com isto, foi com muito gosto que escolhi e visitei os pontos mais icónicos da nossa cidade no que toca à calçada portuguesa, na companhia de uma bica.


Cais das Pombas

Praça Duque da Terceira

Praça do Município

Baixa-Chiado

Praça Luís de Camões

Rua 1º de Dezembro

Praça do Rossio

Rua Augusta

Praça dos Restauradores

Praça dos Descobrimentos

Avenida da Liberdade

Praça do Marquês de Pombal

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Deriva

Naked City


    Saltando para dentro e para fora de transportes públicos, deambulando pela cidade a pé, observando os pormenores de todas as esquinas, de todos os jardins e edifícios. À deriva sem destino e levada até onde o instinto quiser. Encontros com lugares familiares e outros menos, é a experiência ao deambular pela cidade de Lisboa.



sexta-feira, 10 de junho de 2022

Metropolitano de Lisboa

   

 

     Porquê andar de metro, para chegar a algum sítio ou pela viagem? E a viagem, não pode ela ser o destino?

A minha deriva passou por voltar às origens do metro, embarquei com uma estação escolhida ao acaso no momento, e registei num caderno, através de esboços rápidos sem precisão, as pessoas que encontrei. Esbocei Lisboa, no subterrâneo.


    Parti do Marquês de Pombal e dirigi-me para a Baixa-Chiado. Lá, retirei o papel que dizia "Saldanha" e dirigi-me para a estação. Em Saldanha retirei o papel de "Picoas", e em Picoas o de "Campo Pequeno". Do Campo Pequeno fui a "Moscavide", e de Moscavide voltei para o "Saldanha", para casa.
Durante o caminho fui abordada com olhares estranhos dos transeuntes, curiosos com o que estava a desenhar. Sabiam que estavam a ser observados, estudados, desenhados. Alguns permaneciam quietos, esperando um resultado favorável, outros pareciam incomodados, mas todos tinham algo em comum, o destino deles não era o metro. Não foram 14 estações por assim dizer, mas foram 16 desenhos, 16 momentos capturados que de outra forma desapareceriam.


Estação Marquês de Pombal- linha azul

Viagem do Marquês até a Baixa-Chiado

Estação da Baixa-Chiado- linha azul

Viagem da Baixa-Chiado ao Marquês

Estação Marquês de Pombal- linha amarela

Viagem do Marquês a Saldanha

Estação de Saldanha- linha amarela

Viagem de Saldanha a Picoas

Estação Picoas

Viagem de Picoas a Campo Pequeno

Estação de Campo Pequeno

Viagem de Campo Pequeno ao Saldanha

Estação do Saldanha-linha amarela

Viagem de Saldanha a Moscavide
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Estação de Moscavide

Viagem de Moscavide ao Saldanha























O amor é a proposta de resistência

 

O amor é a proposta de resistência

É o maior tema de toda a literatura - o amor "é fogo que arde sem se ver", já dizia Camões, onde exprime a dualidade desse sentimento de uma forma exemplar. Alcançando o cerne de um dos sentimentos mais complexos que existe; que nos provoca tanto prazer e sofrimento ao mesmo tempo.
Em março, a Organização Mundial da Saúde definiu o surto de covid-19 como pandemia o que levou Lisboa, e o mundo a sofreram de um adormecimento forçado.
Aquela que era uma das cidades mais movimentadas de portugal estava agora vazia. Mas portugal uniu-se pelo seu amor à festa, à cerveja e à música, de forma a ultrapassar esta fase juntos e o mais rápido possível.
Hoje, dois anos depois acordámos, e com a vontade de aproveitar e viver tudo o que ficou por fazer.
O que nos une é o amor.

Afrodite, na mitologia grega, era a deusa da beleza e do amor do desejo e da fertilidade. Afrodite, que não desejava a guerra, mas sim o amor, foi venerada em Roma com o nome de Vênus, quando Roma se tornou a sede do poderoso império.

É através da criação de uma deriva com 14 pontos, que pretendo resgatar Lisboa, que é uma cidade que tal com Afrodite encanta quem a visita. Com mais de 20 séculos de história, a capital portuguesa está situada junto ao rio Tejo. Com o sol quase sempre presente,e  a sua beleza única e singularidade arquitetónica são aclamadas além fronteiras.

O meu resgate conta com 14 pontos, que formam a silhueta de Afrodite, e é através da aleatoridade de marcar os pontos, prestando apenas atenção à criação da imagem, que criei a minha deriva. Em todos os cantos de cada estação há um elemento que remete a este amor pela vida, uns mais óbvios outros mais escondidos, mas todos fazem parte de algo histórico. Desafio-te a encontrá-los. Sem um sentido obrigatório aqui estâo as minhas paragens:

 

1ª paragem – Museu Nacional de Arte Comtemporânea

O MNAC é um museu de arte contemporânea situado no centro histórico de Lisboa fundado em 1911. Foi inteiramente reconstruído em 1994, sob projecto do arquitecto francês Jean-Michel Willmotte.

 

2ª paragem – Teatro S. Carlos

Teatro Nacional de São Carlos é a principal casa de ópera de Lisboa, em Portugal. Foi inaugurado em 30 de junho de 1793 pelo Príncipe Regente D. João para substituir o Teatro Ópera do Tejo, que foi destruído no Terramoto de 1755,

 

3ª paragem – Basílica Nossa Senhora dos Mártires

A Basílica de Nossa Senhora dos Mártires é uma igreja que se localiza na Rua Garrett, no Chiado, na freguesia lisboeta de Santa Maria Maior. Em estilo barroco tardio e neoclássico, trata-se de um exemplo da qualidade da arquitectura religiosa no contexto do reordenamento pombalino da cidade de Lisboa.

 

4ª paragem – Gelataria Amorino

A Amorino oferece gelados artesanais italianos em forma de rosa, sem limite na escolha de sabores.

 

5ª paragem - Calçada nova de S. Francisco

As Escadinhas da Calçada Nova de São Francisco, encontram-se no sofisticado e cosmopolita Chiado, mais precisamente na freguesia dos Mártires, em Lisboa.

6ª paragem - Miradouro Largo da Academia de Belas Artes

Neste miradouro será possível admirar os mais diversificados e belos cenários de Lisboa: o Castelo de São Jorge, a Sé, a cúpula dos Paços do Concelho, o arco triunfal da Rua Augusta, para além de uma vista deslumbrante dos telhados e pormenores genuínos com o Tejo como pano de fundo.

 

7ª paragem – Praça do Municipio

É localizada na freguesia de Santa Maria Maior; fica a oeste da Praça do Comércio, na Rua do Arsenal, na Baixa Pombalina. Foi em tempos chamada Praça de São Julião. Alberga o edifício dos Paços do Concelho, sede da Câmara Municipal de Lisboa.

 

8ª paragem – Largo Corpo Santo

O nome do sítio deve-se à presença da antiga ermida de Nossa Senhora da Graça, certamente construída no século XV, reedificada em 1594, que guardava uma imagem de S. Pedro Gonçalves, ou “Corpo Santo”, tida por milagrosa e venerada pelos pescadores, que iam ali pagar promessas.

 

9ª paragem – Jardim Ribeira das Naus

Tem um quiosque e uma esplanada para aproveitar ao máximo a luz de Lisboa e o pôr do sol mais impressionante da cidade. Aproveite para deambular nesta zona ribeirinha que Lisboa recuperou para si e para os seus visitantes.

 

10º paragem – Ribeira das Naus

A Ribeira da Naus é um dos espaços mais interessantes de Lisboa. Recentemente reabilitada, o antigo estaleiro de construção das naus portuguesas é hoje uma surpreendente praia fluvial, com um amplo espaço ajardinado e uma escadaria considerável que se estende em direção ao rio.

 

11ª paragem – Livraria Bertrand

A Livraria Bertrand é a maior e mais antiga rede de livrarias de Portugal. Fundada em 1732 por Pedro Faure, a  primeira Bertrand abriu portas na Rua Direita do Loreto. E passa então a fazer parte do itinerário cultural da cidade. O Chiado de então era frequentado por Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Antero de Quental e Ramalho Ortigão, que por ali se deixavam ficar em conversa de amigos ou em acesas tertúlias.

 

12ª paragem – Refood Santa Maria Maior

O Movimento REFOOD mobiliza os recursos da comunidade e seu sentido de responsabilidade social e ambiental para cocriar uma sociedade mais justa, solidária e sustentável.

 

13ª paragem – Music Box Lisboa

Musicbox Lisboa é o clube que está no epicentro do trabalho desenvolvido pela CTL, empresa que se dedica à gestão e produção de conteúdos culturais.

 

14ª paragem – Faculdade de Belas-Artes Lisboa

A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa é uma instituição de ensino público universitário integrada na Universidade de Lisboa. É a escola superior de ensino artístico mais antiga de Portugal, dedicando-se ao ensino e investigação em Belas Artes.



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Deriva

Atualmente a poluição sonora é constante nas grandes cidades, como Lisboa.

Este ambiente barulhento afeta a cidade e o estado mental das pessoas de forma inconsciente, alienando-as da cidade e de apreciar o momento.

Com este trabalho pretendo resgatar a cidade através da música e de como as pessoas reagem ao ambiente musical.

Acabei de chegar ao rossio e reparo que à saída da estação está uma senhora a vender gelados. A sua banca só tem um congelador e 2 chapéus de sol. Como não ocupa muito espaço, a banca de vendas cabe no pequeno passeio entre 2 semáforos. A senhora está sentada num banco e parece aborrecida, agora que não há muita circulação por estes semáforos, a única coisa que lhe parece fazer companhia é o rádio antigo que tem por cima da arca do qual sai uma música nostálgica.

Sigo para a rua principal, mas está muita confusão, logo que posso viro na próxima rua porque tem menos pessoas.

Na curva da rua está um restaurante acolhedor e a música capta a minha atenção. Já passei por aqui várias vezes no meu caminho para a estação de comboios, assim sei que este restaurante toca sempre música tradicional. Ao contrário de outros restaurantes que tocam os hits pop mais relevantes, este é fiel às tradições portuguesas, não só na música, mas também na forma que está decorado.

A chegar ao elevador de Sta. Justa ouço um som repetitivo e aproximo-me para ver o que é. Um senhor de meia-idade está sentado no chão e segura em tambor enorme. Toca repetidamente um ritmo simples e por vezes fora de tempo. A cada batida saía um som estranho, parecia que a pele do tambor se ia rasgar a qualquer momento. O senhor continua a tocar e mesmo sem qualquer audiência, parece que se está a divertir. É neste ambiente alegre que me lembro das primeiras vezes que toquei bateria, um ritmo repetitivo e fora de tempo que ao meu ouvido parecia uma complexa obra de arte. Divertia-me imenso a tocar bateria e neste momento é o que desejava estar a fazer.

Agora a subir a rua dos armazéns do chiado, paro perto de uma roulotte/carro antigo que faz de loja. Lembro-me de passar por esta loja mais vezes, aberta ou fechada a música é constante e contagiante, quem passa por aqui, para, aprecia a música e tira fotos. O fado português é o único estilo de música que se ouve, e a sua ressonância neste ambiente desperta o romantismo da cidade e lembra a relevância do fado em lisboa.

No Largo do Carmo ouço um som baixinho de uma guitarra clássica. Sigo esse som e encontro um senhor que toca guitarra e canta muito bem. Toca uma música que não conheço, no estilo de bossa-nova. Por aqui não circula muita gente, mas quem passa, para, para apreciar a música. Não há quem não goste de bossa-nova, mesmo não entendendo o que o senhor canta, os turistas que passam têm um sorriso na cara.

Cheguei à praça Luís de Camões e estava cheia de gente, pensei em mudar de direção para fugir à confusão, mas reparei que no meio da praça estava um grupo de pessoas que formavam uma roda. Associei essa roda de pessoas a um possível artista de rua e depois de alguns encontrões e desvios, consegui aproximar-me do grupo. Era um pianista jovem com um teclado eletrónico ligado a um pequeno amplificador e tocava algumas músicas clássicas e outras pop. Aqui as pessoas passam para conhecer a praça, mas acabam por ficar a desfrutar da música, interagem com o restante público e fazem novos amigos.

De frente para o café ‘A Brasileira’ no Chiado, está um velhote que canta como fala.  De braços cruzados e cara trancada, canta uma cantiga portuguesa que parece antiga. Os clientes do café acham a situação engraçada, olham para o senhor como se estivessem a perguntar a si mesmos porque é que o senhor, que não canta muito bem, decidiu sair para cantar, e porquê aqui? Por outro lado, quem passa na rua, olha, sorri e segue caminho. Este senhor lembra a Lisboa antiga.

Agora perto do metro penso em sair do Chiado e o destino que me vem à cabeça é a faculdade de ciências.

Chego à estação de metro do Campo Grande e vou até ao Jardim Mário Soares. Junto ao lago está um casal, a rapariga toca guitarra e o rapaz canta uma música portuguesa.

A sair do jardim encontro um grupo de praxe que canta a gritar. Estão todos muito divertidos a fazer jogos e tradições de praxe.

Vou até ao metro da Cidade Universitária e ao entrar ouço uma guitarra clássica e uma voz rouca. Já é a terceira vez que encontro este senhor aqui, com um ar descontraído e amigável segura uma guitarra com flores desenhadas. As paredes estão cobertas de arte, desenhos e poemas, o som propaga-se pelo corredor e afeta alegremente todos os que por aqui passam.

As flores na guitarra lembraram-me da Estufa Fria e é para aí que escolho continuar o meu caminho.

Na entrada da Estufa Fria o ambiente é calmo, relaxante e fresco e só se ouve os pássaros e gansos que aqui vivem. Andei até ao fundo da estufa e aqui, ouve-se uma música pop que é repetida várias vezes, saltos e gritos. Percebi que é um grupo que dança dentro do pavilhão, devem estar a treinar para um espetáculo.

Apanhei o metro para o Terreiro do Paço, e perto do rio está um pianista que toca virado de frente para o rio. As pessoas que param para apreciar a vista distraem-se com o pianista e a sua música clássica.

A chegar ao arco da Rua Augusta encontro um grupo de dança, que traz consigo uma coluna e um saco de acessórios. Dançam ao som da música e têm um público tão grande que quase bloqueiam a passagem. Quem passa por aqui é atraído pela música e pelos movimentos entusiastas deste grupo e ninguém fica indiferente a este ambiente.

Já na FBAUL encontro 2 pessoas que dividem um par de fones. Não sei que música estão a ouvir, mas pela reação delas parece que estão a ouvir uma música nova, de algum artista que ambas gostam. O entusiasmo contagia e desperta curiosidade a todos os que passam por elas.

A música tem muito efeito em nós, principalmente ao ar livre e nas ruas de uma cidade como Lisboa. É fascinante cruzarmos com os que lá vivem, trabalham ou visitam e analisar o ambiente que os rodeia e como isso os transforma. A música desperta a cidade e alegra os que por ela passam.