Atualmente a poluição sonora é constante nas grandes cidades, como Lisboa.
Este ambiente barulhento afeta a cidade e o estado mental das pessoas de forma inconsciente, alienando-as da cidade e de apreciar o momento.
Com este trabalho pretendo resgatar a cidade através da música e de como as pessoas reagem ao ambiente musical.
Acabei de chegar ao rossio e reparo que à saída da estação está uma senhora a vender gelados. A sua banca só tem um congelador e 2 chapéus de sol. Como não ocupa muito espaço, a banca de vendas cabe no pequeno passeio entre 2 semáforos. A senhora está sentada num banco e parece aborrecida, agora que não há muita circulação por estes semáforos, a única coisa que lhe parece fazer companhia é o rádio antigo que tem por cima da arca do qual sai uma música nostálgica.
Sigo para a rua principal, mas está muita confusão, logo que
posso viro na próxima rua porque tem menos pessoas.
Na curva da rua está um restaurante acolhedor e a música
capta a minha atenção. Já passei por aqui várias vezes no meu caminho para a
estação de comboios, assim sei que este restaurante toca sempre música
tradicional. Ao contrário de outros restaurantes que tocam os hits pop
mais relevantes, este é fiel às tradições portuguesas, não só na música, mas
também na forma que está decorado.
A chegar ao elevador de Sta. Justa ouço um som repetitivo e aproximo-me para ver o que é. Um senhor de meia-idade está sentado no chão e segura em tambor enorme. Toca repetidamente um ritmo simples e por vezes fora de tempo. A cada batida saía um som estranho, parecia que a pele do tambor se ia rasgar a qualquer momento. O senhor continua a tocar e mesmo sem qualquer audiência, parece que se está a divertir. É neste ambiente alegre que me lembro das primeiras vezes que toquei bateria, um ritmo repetitivo e fora de tempo que ao meu ouvido parecia uma complexa obra de arte. Divertia-me imenso a tocar bateria e neste momento é o que desejava estar a fazer.
Agora a subir a rua dos armazéns do chiado, paro perto de uma roulotte/carro antigo que faz de loja. Lembro-me de passar por esta loja mais vezes, aberta ou fechada a música é constante e contagiante, quem passa por aqui, para, aprecia a música e tira fotos. O fado português é o único estilo de música que se ouve, e a sua ressonância neste ambiente desperta o romantismo da cidade e lembra a relevância do fado em lisboa.
No Largo do Carmo ouço um som baixinho de uma guitarra clássica. Sigo esse som e encontro um senhor que toca guitarra e canta muito bem. Toca uma música que não conheço, no estilo de bossa-nova. Por aqui não circula muita gente, mas quem passa, para, para apreciar a música. Não há quem não goste de bossa-nova, mesmo não entendendo o que o senhor canta, os turistas que passam têm um sorriso na cara.
Cheguei à praça Luís de Camões e estava cheia de gente,
pensei em mudar de direção para fugir à confusão, mas reparei que no meio da
praça estava um grupo de pessoas que formavam uma roda. Associei essa roda de
pessoas a um possível artista de rua e depois de alguns encontrões e desvios,
consegui aproximar-me do grupo. Era um pianista jovem com um teclado eletrónico
ligado a um pequeno amplificador e tocava algumas músicas clássicas e outras
pop. Aqui as pessoas passam para conhecer a praça, mas acabam por ficar a
desfrutar da música, interagem com o restante público e fazem novos amigos.
De frente para o café ‘A Brasileira’ no Chiado, está um velhote que canta como fala. De braços cruzados e cara trancada, canta uma cantiga portuguesa que parece antiga. Os clientes do café acham a situação engraçada, olham para o senhor como se estivessem a perguntar a si mesmos porque é que o senhor, que não canta muito bem, decidiu sair para cantar, e porquê aqui? Por outro lado, quem passa na rua, olha, sorri e segue caminho. Este senhor lembra a Lisboa antiga.
Agora perto do metro penso em sair do Chiado e o destino que
me vem à cabeça é a faculdade de ciências.
Chego à estação de metro do Campo Grande e vou até ao Jardim
Mário Soares. Junto ao lago está um casal, a rapariga toca guitarra e o rapaz
canta uma música portuguesa.
A sair do jardim encontro um grupo de praxe que canta a
gritar. Estão todos muito divertidos a fazer jogos e tradições de praxe.
Vou até ao metro da Cidade Universitária e ao entrar ouço
uma guitarra clássica e uma voz rouca. Já é a terceira vez que encontro este
senhor aqui, com um ar descontraído e amigável segura uma guitarra com flores
desenhadas. As paredes estão cobertas de arte, desenhos e poemas, o som propaga-se
pelo corredor e afeta alegremente todos os que por aqui passam.
Na entrada da Estufa Fria o ambiente é calmo, relaxante e fresco e só se ouve os pássaros e gansos que aqui vivem. Andei até ao fundo da estufa e aqui, ouve-se uma música pop que é repetida várias vezes, saltos e gritos. Percebi que é um grupo que dança dentro do pavilhão, devem estar a treinar para um espetáculo.
Apanhei o metro para o Terreiro do Paço, e perto do rio está
um pianista que toca virado de frente para o rio. As pessoas que param para
apreciar a vista distraem-se com o pianista e a sua música clássica.
A chegar ao arco da Rua Augusta encontro um grupo de dança,
que traz consigo uma coluna e um saco de acessórios. Dançam ao som da música e
têm um público tão grande que quase bloqueiam a passagem. Quem passa por aqui é
atraído pela música e pelos movimentos entusiastas deste grupo e ninguém fica
indiferente a este ambiente.
Já na FBAUL encontro 2 pessoas que dividem um par de fones.
Não sei que música estão a ouvir, mas pela reação delas parece que estão a
ouvir uma música nova, de algum artista que ambas gostam. O entusiasmo contagia
e desperta curiosidade a todos os que passam por elas.
A música tem muito efeito em nós, principalmente ao ar livre e nas ruas de uma cidade como Lisboa. É fascinante cruzarmos com os que lá vivem, trabalham ou visitam e analisar o ambiente que os rodeia e como isso os transforma. A música desperta a cidade e alegra os que por ela passam.